Muitas pessoas ao comentarem sobre a clonagem estão referindo-se a apenas um dos vários tipos de clonagem. Tais como a criação de uma cópia idêntica, de uma forma de vida ou órgão que é conhecido como clonagem no mundo científico.
Este é um dos tipos de clonagem que tem um grande potencial para ajudar a seres humanos a se recuperarem mais rapidamente de doenças. Até mesmo eliminá-la, em alguns casos através da reprodução de órgãos e de implantação. Embora esses avanços serão mais propensos a serem vistos no futuro, o ato da clonagem de animais e organismos já foi realizado.
A palavra clone, para identificar indivíduos idênticos geneticamente foi introduzida na língua inglesa no início do século XX. A sua origem etimológica é da palavra grega klon, que quer dizer broto de um vegetal. A clonagem é uma forma de reprodução assexuada que existe naturalmente em organismos unicelulares e em plantas. Este processo reprodutivo se baseia apenas em um único patrimônio genético.
Nos animais ocorre naturalmente quando surgem gêmeos univitelinos. Neste caso ambos indivíduos gerados tem o mesmo patrimônio genético. A geração de um novo animal a partir de outro pré-existente ocorre apenas artificialmente em laboratório. Os indivíduos resultantes deste processo terão as mesmas características genéticas cromossômicas do indivíduo doador, ou também denominado de original.
Histórico sobre Clonagem de Animais
A primeira tentativa de realizar este tipo de procedimento foi em 1902 por Hans Spemann, utilizando a salamandra como modelo animal. O Prof. Spemann ganhou o prêmio Nobel, em 1935, pelas suas pesquisas sobre o efeito organizador no desenvolvimento embrionário. Em 1938 o Prof. Hans Spemann propôs a teoria da duplicação. Na qual se realiza a clonagem reproduzindo assexuadamente um indivíduo igual a outro pré-existente, pela substituição do material nuclear.
O primeiro experimento com sucesso já foi realizado em 1952, pelos Drs. Robert Briggs e Thomas J. King, do Instituto Carnegie/Washington-EEUU. Eles obtiveram os primeiros clones de rãs, por substituição de núcleos celulares. Durante muitos anos isto foi testado em diferentes espécies animais, especialmente mamíferos.
Quase uma década depois, em 1963, uma carpa foi clonada por um embriologista chinês.
Nos anos 70, um cientista chamado John Gurdon clonou girinos com sucesso. Ele transplantou o núcleo de uma célula especializada de um sapo em um ovo não fertilizado de outro sapo no qual o núcleo foi destruído por luz ultravioleta. O ovo com o núcleo transplantado se desenvolveu em um girino que era geneticamente idêntico ao segundo sapo.
Em 1981 a clonagem de ratos a partir de células embrionárias.
Steen Willadsen da Universidade de Cambridge clonou uma ovelha a partir de células embrionárias jovens em 1984. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Wisconsin clonou uma vaca a partir de células embrionárias jovens do mesmo animal no ano de 1986. Em 1995, Ian Wilmut e Keith Campbell, da estação de reprodução animal na Escócia utilizaram células embrionárias com nove dias para clonar duas ovelhas idênticas chamadas de “Megan” e “Morag”.
Outras tentativas
No ano seguinte surgiu “Dolly”, clonada pelas mãos destes mesmos pesquisadores a partir de células congeladas de uma ovelha. A repercussão deste caso se deu pela inovação de criar um clone originado não de uma célula embrionária. Mas sim, de uma célula mamária. O nascimento de Dolly foi anunciado em 1997, sendo o marco de uma nova era biotecnológica. A equipe do Prof. Wilnut utilizou 834 núcleos de células de animais adultos e de fetos. Foram feitas 276 tentativas.
De todos os 156 óvulos implantados, somente 21 se desenvolveram e apenas 8 animais nasceram. Destes, apenas um único (Dolly) era oriundo de um núcleo de uma célula de um animal adulto. O objetivo comercial desta pesquisa talvez tenha sido a produção de fator VIII sanguíneo, para o tratamento de pacientes hemofílicos ou outros produtos biológicos semelhantes. Os resultados destes experimentos só foram divulgados na Revista Nature, em fevereiro de 1997.
No ano seguinte pesquisadores japoneses apresentam os primeiros clones de vacas adultas. Eles nasceram no Instituto de Pesquisa do Gado de Ishikawa. Neste mesmo ano de 1998 a Universidade do Havaí anuncia a realização de “clonagem em série”. Clones de clones de camundongos, criando três gerações idênticas. A empresa americana Advanced Cell Technology deu seu primeiro susto na comunidade científica ao anunciar que, em 1996, introduzira DNA humano em um óvulo de vaca sem núcleo. O embrião resultante foi destruído.
Os Estados unidos anunciou em 1999 o nascimento dos primeiros clones de cabras adultas já com um gene humano para produção de uma proteína específica no leite. Em 2000 apresentaram o nascimento de cinco porquinhos nascidos como o primeiro passo para a criação de suínos capazes de fornecer órgãos para transplantes. Millie, Christa, Alexis, Carrel e Dotccom eram clones de porcas adultas.
O macaco Tetra da espécie rhesus foi clonado em 2000 na Universidade de Oregon, Estados Unidos.
Nasce o primeiro clone de um animal ameaçado de extinção em 2001, um gauro, tipo de gado asiático, que morreu dias depois (Pacheco, 2011).
Em 2001 especialistas brasileiros conseguiram clonar “Vitória”, primeiro bovino da América Latina (CLONED, 2002). A Itália anuncia a primeira clonagem bem-sucedida de um animal ameaçado de extinção: uma ovelha mouflon (Pacheco, 2011).
A PPL Therapeutics, empresa fundada nos EUA pelos criadores de Dolly, apresenta novos clones de porcos em 2002. Desta vez, sem um gene responsável pela rejeição de órgãos suínos quando transplantados para pessoas. Um dia depois, a Universidade do Missouri, diz ter obtido o mesmo avanço. Nesse ano a Universidade A & M do Texas apresenta a gatinha Cc, o primeiro clone de um animal de estimação que nascera após 188 tentativas (Pacheco, 2011).
Franceses aproveitam a Páscoa de 2002 para contar que conseguiram criar clones de coelhos a partir de células de animais adultos. (Pacheco, 2011).
No Brasil em 2002 “Marcolino” bezerro clonado a partir de uma célula fetal por pesquisadores da USP nascido em abril e “Penta” bezerra nascida em Jaboticabal, SP, no mês de julho, clonada de células adultas (Nasce, 2004).
O primeiro rato como modelo importante de pesquisa para as doenças humanas como o diabetes e a hipertensão foi clonado em 2003 pela França (França, 2003).
Cientistas da Universidade de Idaho apresentam o primeiro clone de um eqüilo, Idaho Gem em 2003 (Pacheco, 2011).
Cientistas italianos anunciam em 2003 a criação do primeiro clone de um cavalo adulto, Prometea. Ele nasceu com 36 quilos é uma cópia da égua que a deu à luz (Pacheco, 2011).
Também em 2003 a Embrapa anuncia no nascimento da bezerra “Vitoriosa” clone da vaca “Vitória” em maio e “Lenda” nascida em setembro, clone de vaca valiosa (Pacheco, 2011). Em dezembro do mesmo ano nasce “Bela” também clone de animal adulto desenvolvido pela USP.
Como é realizada a clonagem de animais
Quando as pessoas pensam na clonagem humana e clonagem de animais estão normalmente pensando em um dos mais populares tipos de clonagem chamada clonagem reprodutiva. A clonagem reprodutiva tem o potencial para ajudar a gerar doadores de órgãos para seres humanos, bem como outro tecido humano no futuro. O processo de clonagem reprodutiva foi tradicionalmente usado para gerar animais que têm as mesmas moléculas de DNA nucleares como um animal já existente, sem o processo de parto.
Existem três tipos de clonagem. A clonagem molecular que engloba a clonagem de um ou mais genes ou um pedaço longo de DNA. Também a clonagem celular constituindo as linhagens de células como os anticorpos monoclonais e a clonagem de organismo multicelular.
A clonagem em laboratório pode ser feita, basicamente, de duas formas. Separando-se as células de um embrião em seu estágio inicial de multiplicação celular. Ou pela substituição do núcleo de um óvulo por outro proveniente de uma célula de um indivíduo já existente.
A primeira forma, separação provocada das novas células de um embrião, produzirá novos indivíduos exatamente iguais, quanto ao patrimônio genético, porém diferentes de qualquer outro já existente. É um processo semelhante ao que ocorre na natureza quando da geração de gêmeos univitelinos, que tem origem a partir de um mesmo óvulo e de um mesmo espermatozoide.
O outro procedimento consiste em utilizar o material genético (núcleo) extraído de uma célula somática de um indivíduo e inseri-lo em um óvulo cujo núcleo com DNA tenha sido retirado (Figura 3). Essa célula pode ser originada de um embrião, feto ou adulto que estejam vivos, mantidos em cultura em um laboratório ou de tecido que esteja congelado. A fase crítica se dá na etapa de fusão das células, feita através de corrente elétrica ou com um vírus chamado Sendai.
1) Células somáticas retiradas do doador. 2) Células cultivadas em laboratório. 3) Colhe-se um óvulo não fertilizado. 4) Núcleo contendo DNA é retirado do óvulo. 5) Célula cultivada é fundida ao óvulo por meio de corrente elétrica. 6) Óvulo fertilizado com nova informação genética. 7) Óvulo vai se desenvolver até a fase de blástula (embrião com mais de 100 células) onde estão as células tronco.
O animal clonado não é idêntico ao animal doador por duas razões. Primeira, o modo de criação do clone dificilmente será igual ao do progenitor, já que a formação de um ser obedece à relação: NATUREZA + CRIAÇÃO = ORGANISMO. Segunda, o DNA mitocondrial pertence ao organismo doador do óvulo no qual é inserido o núcleo da célula somática.
A clonagem de genes é, necessariamente, o primeiro passo no desenvolvimento de métodos moleculares eficientes. Resulta em aumento do poder destas técnicas. Pois, permite o uso direto do gene de interesse, ao invés de marcadores ligados a esse gene.
Ovelha Dolly
O procedimento de clonagem da ovelha Dolly consistiu em se pegar um óvulo de ovelha – cujo núcleo fora removido previamente – e introduzir nele o núcleo de uma célula somática (no caso uma célula da mama de outra ovelha). O óvulo com o núcleo foi colocado em contato com tecido de oviduto por seis dias.
Depois foi inserido no útero de uma terceira ovelha. A Dolly nasceu cinco meses após o implante do óvulo, de acordo com o período de gestação normal das ovelhas. É devido a essa origem um tanto estranho que a ovelha recebeu o nome de Dolly, que era uma referência à Dolly Parton, um artista popular que é famosa pelo tamanho de seus seios. O nascimento da ovelha Dolly ocorreu em 1996, o animal viveu sete anos e teve um total de seis filhos saudáveis.
Sabe-se, hoje, que no processo de clonagem animal apenas um número mínimo de gestações é levado a termo, se comparado com gestações de animais produzidos por fertilização “in vitro”. Outro dado muito relevante, que aparece em gestações de animais clonados, é a ocorrência de perdas embrionárias, fetais e pós-natais.
A baixa viabilidade dos embriões clonados é principalmente expressa pela redução na taxa de implantação, pelo aumento na taxa de mortalidade fetal e perinatal, e pelas diversas anomalias observadas nos animais recém-nascidos. Esses problemas ocorrem possivelmente porque os núcleos de células diferenciadas não são corretamente reconduzidos a um estágio embrionário nos embriões clonados, o que leva à expressão errônea de genes
que são necessários para sustentar o desenvolvimento normal. A baixa eficiência do processo de clonagem animal envolve problemas, tais como anomalias cromossômicas, alocação anormal do número de células no botão embrionário e trofoectoderma e formação deficiente do fuso mitótico. Quando ocorre clivagem e desenvolvimento de blastocisto, a taxa de implantação é menor e as perdas fetais normalmente elevadas sugerem deficiências do processo normal de desenvolvimento biológico da espécie.
Pelo menos em bovinos, uma pequena proporção dos animais clonados é fenotipicamente normal, cresce de forma saudável, possui um sistema imunitário funcional e pode reproduzir-se e produzir normalmente.
O procedimento requer o aperfeiçoamento para a correta aplicação da técnica. Ela é necessária à recuperação de espécies em extinção, ao incremento da produção animal e mesmo à aplicação terapêutica para o uso em terapias celulares e regenerativas.
Clonagem de Animais Internacionais
Dolly foi o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso pela equipe escocesa do Instituto Roslin. A transferência de células somáticas, que permitiu a criação era um processo novo que ainda tinha de encontrar o sucesso com tipos complexos de animais.
Com sede em Austin, Texas, a empresa de clonagem ViaGen é uma das duas principais empresas de clonagem de gado dos Estados Unidos. “Produzimos cavalos clonados a partir de doadores estéreis que agora se reproduzem com eficácia e oferecem oportunidades de genética que não eram possíveis com os doadores”, disse Lauren Aston, porta-voz da ViaGen, à AFP.
Segundo cálculos da ViaGen, 3 mil cabeças de gado foram clonadas desde Dolly. Atualmente, segundo Aston, são clonados no mundo entre 200 e 300 vacas e de 200 a 300 porcos ao ano. A empresa cobra 165 mil dólares para clonar um cavalo, 20 mil por uma vaca e 2,5 mil dólares por um leitão. Os clones de gado da ViaGen não nasceram com más-formações e seus investidores não entendem porque a BioArts obteve resultados negativos quando clonou cães.
O clone de um cavalo da raça crioula, destinado a competições esportivas, foi obtido na Argentina, um feito inédito na América Latina pelo laboratório Bio Sidus.
O Instituto Suam de Biociência, onde Hwang Woo-suk trabalha atualmente, assegurou ter clonado com êxito em 2011 oito coiotes, em perigo de extinção, transferindo pela primeira vez o núcleo de células da espécie para óvulos de uma cadela comum. Os embriões foram inoculados em cadelas que tiveram crias de coiote, de acordo com o governo de Gyeonggi, que patrocina as experiências. Hwang e a equipe trabalham também na clonagem de outra espécie de cão selvagem africano em perigo de extinção, mas sem êxito até ao momento.
Clonagem de Animais no Brasil
No Brasil a clonagem teve inicio em 17 de março de 2001 com o nascimento de “Vitória da Embrapa”, uma bezerra da raça Simental, primeiro bovino clonado na América Latina. O projeto de biotecnologia de reprodução animal da Embrapa foi desenvolvido pela equipe do coordenador Rodolfo Rumpf utilizando a técnica de transferência nuclear.
O clone bovino morreu dia 17 de junho de 2011 aos 10 anos de idade em decorrência de complicações causadas por uma pneumonia bacteriana. Vitória foi clonada a partir de células embrionária e sempre mostrou bom desempenho. Deu a luz a dois filhotes, um em 2004 e outro em 2006.
Logo após “Vitória”, a Unesp de Jaboticabal anuncia o nascimento da bezerra “Penta” em 2002, o primeiro clone de animal adulto no Brasil que morreu cinco semanas depois de infecção generalizada.
“Lenda” da Embrapa bovina da raça holandesa, nasceu em 2003. Em 2005 nasceu “Porã” e “Potira” bovinas da raça Junqueira parte do Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A raça está em estado crítico de extinção no Brasil com menos de 100 animais no país. Todos estes clones da Embrapa têm crias comprovando bom potencial reprodutivo e habilidade materna.
Em 2003 a Embrapa anunciou o nascimento da bezerra “Vitoriosa” que foi gerada a partir de DNA extraído de uma célula da orelha de “Vitória”, clonada em 2001. “Vitoriosa” morreu 36 horas após nascer, em maio de 2003, em função de problemas no parto.
O primeiro registro de zebuíno clonado do mundo ocorreu no dia 1º de dezembro de 2009 pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). A bezerra da raça Nelore chamada Divisa Mata Velha TN 1 pertence à Fazenda Mata Velha. Ela é clone da fêmea Divisa, que foi Grande campeã da ExpoZebu 1995.
Pela primeira vez a Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, a ExpoLondrina 2011, exibiu um animal clonado. A vaca “Canjiquinha” é clone de “Canjica”, da raça Brangus, nasceu em junho de 2010, resultado de um bem sucedido projeto experimental da Unopar com clonagem animal. A equipe Unopar tem parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Pará (UFPA).
Clonagem de Animais para Fim Econômico
A clonagem de gado tem sido mais bem sucedida, devido ao valor comercial dos animais de boa qualidade: os criadores mostram-se dispostos a pagar dezenas de milhares de dólares pelo clone de uma vaca ou de um cavalo premiado. Certo tipo de gado também é mais fácil e mais barato de clonar do que os cães, explicou Woestendiek à AFP.
Esses animais são escolhidos por terem apelo comercial e por terem um período de gestação longo o que gera, normalmente, apenas um indivíduo. O fato de originar, através dos métodos naturais, apenas um indivíduo por gestação dificulta a perpetuação de algumas características que são interessantes para o comércio, como por exemplo, uma maior produção de leite ou a alta taxa de músculos.
A clonagem de bovinos poderia facilitar a reprodução de animais com certas características genéticas. Para os galináceos, que podem se reproduzir em um período curto de tempo e gerar inúmeros indivíduos, a clonagem não seria tão interessante.
A clonagem de gado pode, teoricamente, permitir aos agricultores produzir grandes quantidades dos mais produtivos animais, resistentes a doenças, reduzindo assim o custo de carne e proporcionando mais alimento para o mundo.
Em janeiro de 2008, a FDA (Food and Drug Administration) decidiu que a carne produzida a partir de clones e seus descendentes é aceitável para o consumo humano. Mas, solicitou um período indefinido de espera antes que estes produtos fossem trazidos para o mercado, para que uma transição suave pudesse ser planejada.
Há algum uso de animais clonados na Europa, especialmente na pecuária leiteira e de carne. Na Suíça, centenas de vacas clonadas são usadas na indústria de laticínios. Mas, representa ainda uma porcentagem muito pequena das 1,5 milhões de vacas leiteiras do país.
Algumas experiências no Reino Unido foram realizadas. Mas, os produtos de carne e leite destes animais ainda não estão no mercado. Apesar do potencial de algumas melhorias no abastecimento alimentar, utilizando clonagem de gado, também existem problemas sérios a considerar. Primeiro de tudo, há questões éticas a considerar discutidos a tempo sobre clonagem. Além disso, se uma grande proporção de uma espécie tornar-se geneticamente idêntica, as espécies se tornam mais susceptíveis à extinção se uma pandemia grave vier a ocorrer.
A clonagem de animais tem aplicação para a conservação e de melhoramento genético. Com fins de conservação ela serve para implantar bancos genéticos que guardem material de diferentes espécies. Para melhoramento, porque é uma técnica que permite reproduzir de maneira mais ampla, filhos de animais de qualidade superior, como touros e vacas com maior capacidade reprodutiva ou vacas que produzam mais leite.
Mesmo com os avanços e os inúmeros benefícios, a clonagem ainda está longe de se tornar popular no mercado. Hoje, esse é um dos grandes desafios da Embrapa: melhorar o processo de maneira a torná-lo mais barato. A reduzida taxa de sucesso se coloca como um dos entraves. A cada 100 óvulos colocados para nascer, apenas de dois a cinco ganham vida, no caso das fêmeas. Para os machos, a taxa é de 5% a 10%.
“Depois do nascimento, ainda podemos ter problemas”, afirma o pesquisador da Embrapa Maurício Franco. Dessa forma, os preços são quase proibitivos, mesmo com três laboratórios nacionais – dois no estado de São Paulo e um em Minas Gerais – dominando a tecnologia desenvolvida pela empresa. Um fazendeiro que desejar clonar um excelente boi reprodutor terá que desembolsar R$ 50 mil, valor que pode compensar quando o animal representar um retorno bem superior ao investimento. Essa alternativa é válida se o animal original sofrer um acidente ou morrer, em condições que permitam recolher matéria-prima necessária à clonagem.
Para a Embrapa, mais do que um fim, a clonagem é um meio. O maior sonho dos pesquisadores é produzir animais transgênicos, ou seja, geneticamente modificados. Com base no mesmo princípio da clonagem — a transferência nuclear –, o futuro aponta para a geração de animais mais fortes e que produzem mais, a verdadeira finalidade das atuais pesquisas.
A clonagem é a mais sofisticada das biotécnicas e também já está sendo utilizada pelo setor produtivo brasileiro desde 2004, quando a Embrapa assinou um contrato de cooperação técnica com a Brasif S/A Administração e Participações. A parceria com empresas privadas é determinante para o aprimoramento das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e também para fazer com que cheguem mais rápido ao setor produtivo.
Durante a ExpoLondrina 2011, representantes da Unopar garantiram produzir a partir de agosto de 2011, 15 nascimentos de clones por mês. Certeza de um bom retorno financeiro. A Fábrica de Clones já fechou contrato de exportação de mil cabeças da raça Girolanda para o Panamá, e negocia também com a Argentina.
Clonagem de Animais para Fim Emocional
Cães
Em 1998, um milionário do Estado do Texas (EUA), pagou US$ 5 milhões a Universidade A&M do Texas para que Mark Westhusin diretor de clonagem que sua cadela de estimação fosse clonada. A cadela chamada “Missy” é mestiça das raças Border Collie e Alsaciano e nasceu em 2007.
Porém em 2005 o primeiro cão da raça galgo afegão foi clonado na Coreia do Sul pela equipe de Hwang Woo-suk na Universidade Nacional de Seul (a mesma que criou a empresa Bioarts) e foi chamado de “Snuppy”.
A mesma empresa Bioarts criou um cão com material genético guardado de “Lancelot” que morreu em 2004. Nina e Edgar Otto da Florida pagaram US$ 155.000 para clonagem de seu cão falecido e o clone foi batizado de “Lancelot Encore” em 2008.
A Clonaid, é uma firma que opera nas Bahamas e se propõe a realizar clones de humanos. Fundou em maio deste ano a Clonapet, empresa que vai oferecer o serviço de clonagem de animais de estimação. A empresa oferece seus serviços na Internet, diz que já possui material genético congelado de mais de 15 gatos e cachorros para ser usado em clonagem. A firma é dirigida pela médica francesa Brigitte Boisselier. Ela pretende também conquistar clientes entre os donos de cavalos de corrida que queiram clonar seus animais. A Clonapet não divulga em seu site o preço cobrado pelos serviços e a Clonaid afirma que será capaz de clonar humanos por “apenas” US$ 200 mil.
Por encomenda da californiana Bernann McKinney, uma empresa sul-coreana anunciou ter realizado a primeira clonagem comercial de um animal de estimação. Cinco cães nasceram a partir das células de um pit bull. Uma “mãe de aluguel” foi escolhida para cuidar dos novos cães, expostos pelos cientistas na Universidade Nacional de Seul em 2008.
Gatos
Algumas empresas, como a Advanced Cell Technology (ACT), dispõe de um banco de tecidos para quem quiser guardar amostras de seu bichinho de estimação.
O primeiro gato clonado da raça Maine Coon, hoje com 10 anos, nasceu em 2001 na Universidade do Texas A&M e recebeu o nome de “CC” (CopyCat). CC tem exatamente a mesma constituição genética de “Rainbow”. Mas, não tem sua coloração laranja. Pois, geralmente apenas duas cores – e não três – são passadas na clonagem de gatos tricolores.
“A clonagem é reprodução, não ressurreição”, disse à AFP Kraemer, agora parcialmente aposentado, em uma entrevista concedida em sua casa em College Station, Texas (sul). Isso, somado a um preço que poderia chegar a seis dígitos, é uma das principais razões pelas quais clonar animais de estimação não tenha sido um grande sucesso comercial. “O mercado é, na realidade, extremamente pequeno”.
Logo após “CC” a empresa Genetic Savings and Clone, em Sausalito, Califórnia, clonou outro gato da mesma raça chamado “Little Nick” a pedido de Julie Holds.
Por que a BioArts deixou o negócio da clonagem de animais de estimação há dois anos? Seu diretor, Lou Hawthorne, escreveu na página da internet da empresa que muito poucos clientes solicitaram seus serviços. “Depois de estudar este mercado durante mais de uma década – e de oferecer serviços de clonagem tanto de cães quanto de gatos – acreditamos que o mercado é, na realidade, extremamente pequeno”, disse Hawthorne no agora extinto site na internet da BioArts.
Embora muitos dos clones de seu cão tivessem saído normais, os pesquisadores não puderam explicar porque alguns nasceram com deficiências. “Um clone nasceu de cor amarelo-esverdeado, quando deveria ser branco”, escreveu. “Outros tiveram más-formações no esqueleto, em geral não paralisantes, embora às vezes graves e sempre preocupantes”, acrescentou. “Estes problemas são ainda mais preocupantes se levarmos em conta que a clonagem é supostamente uma tecnologia, em geral, madura”, emendou.
Cientistas da Universidade Nacional de Seul clonaram, em 2005, o primeiro cão do mundo. Foi dado o nome de Snuppy (cujo nome é a combinação das siglas da universidade e de “puppy”, filhote de cão em inglês). A história de CC cruza com a da Genetic Savings and Clone, uma empresa também chefiada por Hawthorne, precursora da BioArts. John Sperling, fundador da Universidade de Phoenix, um centro de estudos com fins lucrativos do Arizona (sudoeste), investiu quatro milhões de dólares para pesquisar a clonagem animal na Universidade do Texas A&M, na década de 1990.
Hawthorne se associou à Universidade Texas A&M e criou a empresa Genetic Savings and Clone, um negócio que cobrava dezenas de milhares de dólares para clonar animais de estimação. “Quando CC nasceu e não se parecia com o doador, (o vínculo entre) a parte comercial (do projeto) e a A&M começou a se romper”, disse John Woestendiek, autor de “Dog, Inc.: The Uncanny Inside Story of Trying to Clone Man”s Best Friend” (Cão, S.A: a estranha história de bastidores sobre a tentativa de se clonar o melhor amigo do homem, em tradução literal).
Segundo Hawthorne, CC acabou com sua intenção de vender a clonagem como forma de ressuscitar um bichinho querido. Os cientistas da Universidade Texas A&M não se sentiam confortáveis de que a empresa dissesse que poderia oferecer réplicas de animais de estimação. Ao fim, Sperling e Hawthorne se separaram da Universidade Texas A&M. A Genetic Savings and Clone se mudou para o Wisconsin (norte). Onde tentou, sem sucesso, clonar cães. Acabou fechando e Hawthorne fundou a BioArts.
Polêmicas sobre Clonagem de Animais
A preocupação com a abordagem das questões éticas dos processos de clonagem não é recente. Desde a década de 1970 vários autores tem discutido diferentes questionamentos a respeito dos aspectos éticos envolvidos. Paul Ramsey, em 1970, propôs a importante discussão sobre a questão da possibilidade da clonagem substituir a reprodução pela duplicação.
Esta possibilidade reduziria a diversidade entre os indivíduos, com o objetivo de selecionar características específicas de indivíduos já existentes. Isto teria como consequência a perda da individualidade, com a possível despersonalização desses indivíduos.
Prof. Andrew Varga, em 1983, levantou outras questões éticas, como as associadas à produção de clones de plantas e animais destinados ao consumo humano ou à produção de outros produtos. Este debate continua extremamente atual, devido ao seu impacto na redução da diversidade da flora e da fauna. Além disso, outros problemas poderão decorrer da sua utilização.
O experimento realizado na Escócia despertou novamente o debate sobre a adequação da pesquisa em genética. Muitas fantasias cercam o tema da produção de clones, valorizando apenas as características genéticas contidas no núcleo substituído. Desqualificam a influência dos fatores histórico-ambientais e de herança genética citoplasmática (mitocôndrias).
O porta voz da Human Cloning Foundation, dos Estados Unidos, Randolfe Wicker, por exemplo, difunde a idéia de que a clonagem é sinônimo de imortalidade. Pois, acredita que o novo ser clonado é o mesmo que o que o originou. Assim, morrendo o ser original a cópia sobreviveria mantendo viva a pessoa. Esta é uma visão totalmente equivocada do processo de clonagem. Pois, ela nada mais é uma forma de reprodução assexuada. Desta forma, o novo organismo é uma nova pessoa e não um anexo da que o originou, a exemplo dos pais e filhos na reprodução sexuada convencional.
Em 1999, o Dr. Robert P. Lanza conseguiu a adesão de inúmeros cientistas renomados, vários deles contemplados com Prêmios Nobel, para a publicação de uma carta na revista Science. Esta carta contestava a intromissão da política na limitação da liberdade da ciência. Aparentemente, esta posição é o oposto do que foi realizado na década de 1970, quando do início da Engenharia Genética, quando os próprios cientistas estabeleceram uma moratória no sentido auto-estabelecer limites para a pesquisa nesta área, que culminou com a realização da conferência de Asilomar. Vale ressaltar que naquela época a maioria das pesquisas era realizadas em ambientes acadêmicos, contrariamente a situação atual.
As comunidades vem se manifestando, através de programas e questionamentos de opinião sobre este tema. Em Porto Alegre, houve um levantamento de opiniões, durante um debate de rádio (Rádio Gaúcha – Programa Polêmica 27/11/2001). 62% dos 357 ouvintes que se manifestaram posicionaram-se a favor da clonagem com finalidade terapêutica.
Nos Estados Unidos, em um levantamento semelhante, com 1195 participantes, 59% das pessoas também concordam. Neste grupo, quando a pergunta se altera para a clonagem reprodutiva, o índice se reduz para 45%. Em Porto Alegre, em outra sondagem telefônica (Rádio Gaúcha – Programa Polêmica 31/12/2002) o índice de aprovação para a clonagem reprodutiva foi de 15%. O esclarecimento da população sobre os aspectos éticos, sociais, legais e técnicos das clonagens terapêutica e reprodutiva é extremamente importante.
Seja para fins reprodutivos ou para fins terapêuticos o processo é o mesmo. A clonagem terapêutica teria dois agravantes: 1) os embriões gerados seriam obrigatoriamente mortos, com a finalidade de serem obtidas as células-tronco desejadas; 2) existem outras linhagens celulares, não embrionárias, que poderiam ser utilizadas.
A clonagem de seres vivos se tornou um problema polêmico da biotecnologia. A maioria das questões éticas da clonagem seja em animais ou seres humanos foram criados pela Igreja Católica, bem como de outras organizações religiosas. Todos eles se opõem fortemente a clonagem de acordo com a crença religiosa que a vida começa na concepção e que a vida não pode ser criada artificialmente. Mas, a partir da união de um homem e mulher.
Ao mesmo tempo, a igreja, em conjunto com as outras organizações religiosas argumentam contra a clonagem terapêutica. São guiados pela ideia de que a vida começa na concepção. Uma vez que o embrião existe deve ser tratado como uma pessoa. Portanto, destruir embriões e usá-los apenas para fins de investigação não é consistente com a visão religiosa sobre o assunto. Por outro lado, os especialistas estão argumentando principalmente para a clonagem genética e de forma mais aberta para a clonagem terapêutica. Outra questão é, no entanto relacionado com a utilização da clonagem de animais para a produção de carne.
Em 2006, o governo dos EUA aprovou o consumo de carne de animais clonados. Essa decisão levantou objeções significativas, especialmente no que diz respeito aos riscos potenciais associados com a clonagem. Esses riscos podem ser transmitidos através de produtos de origem animal ingeridos. No entanto, apesar de todos esses argumentos, é evidente que os especialistas continuarão a explorar as possibilidades que a ciência pode oferecer.
Pontos negativos da clonagem:
- Técnica de baixa eficiência.
- Vários fetos morrem durante a gestação ou logo após o nascimento.
- Grande número de anomalias
- Envelhecimento Precoce
- Os clones seriam maiores do que o normal, denominado de síndrome do filhote grande (large offspring syndrome – LOS)
- Lesões hepáticas, tumores, baixa imunidade.
Pontos positivos da clonagem:
- Utilização da técnica de clonagem para obtenção de células tronco. Isso a fim de restaurar a função de um órgãos ou tecido.
- A clonagem “terapêutica” teria a vantagem de não oferecer riscos de rejeição se o doador fosse a própria pessoa. (ex.: reconstituir a medula em alguém que se tornou paraplégico após um acidente. Ou, substituir o tecido cardíaco em uma pessoa que sofreu um infarto).
- Diminuição ou fim do tráfico clandestino de órgãos
- Ajudar casais inférteis que não podem ter filhos, mesmo após anos de tratamento de infertilidade.
- Melhoramento animal, resgate de material genético, maximização do potencial genético de uma raça.
Considerações Finais
A regulamentação da clonagem no Brasil se antecipou a existente na maioria dos países do mundo. O atual debate sobre este tema, em vários parlamentos de diferentes países têm servido para verificar tendências nacionais e regionais sobre este tema. Talvez pela existência de regulamentação sobre este assunto o debate parlamentar não tem sido abrangente.
A grande questão que mereceria ser reconsiderada sobre a questão da clonagem não diz respeito propriamente a este processo. Mas, sim sobre a definição de células-tronco contida na Instrução Normativa 08/97 do CTNBio. A extensão da denominação e consequente proibição para todos os tipos de células totipotentes não é defensável. A geração de embriões apenas para servirem de fonte de material biológico para fins terapêuticos é moralmente indefensável. Já a utilização de outras linhagens celulares é admissível e desejável. Pois, poderia substituir esta proposta de utilização de embriões. Este seria uma solução legalmente adequada, cientificamente correta, atual e socialmente relevante.
A clonagem é um dos grandes temas de questionamento ético atual. A evolução das técnicas, dos procedimentos e dos debates permitirá melhor delimitar os aspectos positivos e negativos envolvidos na clonagem. O Prof. Joaquim Clotet, em 1997, referindo-se a questão da proibição da clonagem, afirmou: “a pesquisa não deve ser banida, apenas deve ser orientada para o bem geral da humanidade”. Esta é a posição que reconhece que este conhecimento é um “conhecimento perigoso“. Mas, não um conhecimento que deva ser banido. O desfecho do caso Dolly reforça a noção de que a clonagem é um procedimento que tem riscos associados. A questão da clonagem é um excelente exemplo de aplicação para o Princípio da Precaução, tão atual. Mas, é pouco discutido na Bioética.
Escrito por Maísa Melo Heker